terça-feira, 11 de março de 2014

fuckfuckfuckfuck

Eu desapareci, eu sei.
Estava ocupada demais fazendo coisa alguma, ou reclamando da existência do universo. Eu faria um post diferente hoje, mas eu vou responder uma pergunta que fizeram pra mim nos comentários.

Minha tatuagem.
Eu tinha treze anos e, como todo adolescente, era revoltada com a vida (não que hoje eu não seja mais, mas a coisa toda começou por aí). Eu sempre só andei com garotos, matava aulas e fumava 1/2 maço de cigarro no beco atrás da igreja. Não sei o que era mais pecado, fumar ou fazer isso nos fundos de um lugar considerado sagrado. Eu era a única garota no meio dos rebeldes do colégio, e não preciso falar que eu nunca fui considerada como uma. Era apenas "one of the boys". O que me leva ao Caio. Caio era o líder desse grupinho de encrenqueiros que eu andava, e a todo momento eu sempre tentava fazer de tudo para impressioná-lo e ele notar que eu era garota e que eu estava ali se ele quisesse. Foi pra ele me notar que eu furtava coisa das lojas, xingava os professores no colégio, bebia desenfreadamente nos fins de semana e dei o meu primeiro beijo em outra garota. (Essa parte eu preciso agradecê-lo imensamente, obrigada Caio.). Foi por causa dele também que eu fiz essa tatuagem aos 14. Caio decidiu que queria fazer uma tatuagem, e mesmo que com 15 anos, ele precisava fazer uma tatuagem. E se Caio fosse fazer qualquer coisa que fosse, significava que todos nós devíamos fazer. Nós eramos em 5, e um dos garotos conhecia um tatuador amigo do irmão mais velho dele que topava nos tatuar mesmo sendo menor de idade, contato que pagássemos o dobro do valor. Dinheiro, é sempre dinheiro, não é mesmo?
Eu não tava nem ai se era uma tatuagem ou um transplante de órgãos, contato que eu fizesse aquilo bem feito e provasse pro Caio que eu podia fazer tudo o que ele quisesse sem reclamar. Eu não me importava se se o cara era confiável, se o lugar era decente ou se aquilo ia ficar gravado pra sempre na minha pele. Eu nunca me importei com muita coisa, essa é a verdade, e de decente o lugar não tinha de nada. O estúdio (se é que pode ser chamado assim) era nos fundos da casa do cara, e tudo se resumia a máquina de tatuagem e uma cama velha. Mas eu não era da vigilância sanitária, e o que importa na história não é esse detalhe e sim o que aconteceu quando chegamos lá.
Caio foi o primeiro, é claro. Ele tatuou uma faixa preta no bíceps que demorou umas boas horas. Agora, a questão era que o nosso grupo de rebeldes, não tinha muitos rebeldes de verdade, se é que vocês me entendem. Quando os garotos viram o Caio sendo tatuado, todos cagaram nas calças e ninguém mais quis fazer porra nenhuma. E foi bem ali que eu vi a minha chance, eu podia provar que eu era alguém (hoje eu sei que não é assim que se prova nada, mas na ocasião eu juro que valeu a pena).
O problema é que eu estava tão bitolada com a ideia de fazer uma tatuagem em si, que eu nem sabia o que é que eu faria afinal. Fiquei meio fora de órbita quando o cara me perguntou o que eu tatuaria.
"Qualquer coisa", foi o que eu pensei, mas soaria estúpido demais. E se tinha uma coisa que eu não queria, era que Caio me achasse uma garotinha estúpida.
A primeira ideia era "Rape Me", que acho que todo mundo sabe o que significa, e também era a minha música preferida do Nirvana na época. Eu juro que eu teria feito isso, mas Caio falou que não era uma boa ideia, então eu deixei pra lá.
Aquele dia eu sai com um "fuck" em letras garrafais no pulso, e quando fomos pra casa e os garotos foram embora, Caio perguntou se eu queria subir pro quarto dele, então eu soube que tinha valido a pena aquela merda toda.
Nós nunca mais nos pegamos depois daquele dia, mas só aquela vez já havia sido o suficiente pra mim, eu nunca fui uma garota que sonhava em namorados perfeitos e uma primeira vez especial. Se bem, olhando pra trás hoje, até que aquilo foi especial. Não é todo mundo que transa depois de fazer uma tatuagem ilegal e com o cara mais cobiçado do colégio.

ps: Talvez eu responda alguns comentários de vocês quando achar que devo.