quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

paixão é o caralho

Sabe aquelas historinhas que os amigos contam que estavam na rua e de repente vê o amor da sua vida? Eu sempre achei que isso era a maior merda que as pessoas falam na vida, até algumas semanas a trás, porque foi quando eu vi aquele cara pela primeira vez.
A questão é a seguinte: eu faço uma breve caminhada entre o trabalho e a minha casa, três quarteirões pra ser mais exata. Minha mãe diz que eu deveria pegar o ônibus, mas eles me irritam. A verdade é que esperar me irrita, eu não tenho nem um pingo de paciência de esperar dez ou quinze minutos pra aparecer um ônibus lotado e você tenha que esperar mais outro e mais outro e mais outro. Não tenho paciência pra nada em geral. De qualquer forma não é sobre isso que vou falar nesse post, e sim sobre ele.
Eu caminhava a passos largos, como faço todos os dias, com os headphones estourando algum rock pesado, ignorando todo o restante do mundo e me fechando sob minha redoma de vidro. Normalmente tudo acontece como tem que ser, mas duality tocava e eu me perco um pouco no refrão dessa música. Acho que eu fechei os olhos por dois segundos e não percebi que o semáforo tinha trocado de vermelho pra verde, quando eu voltei a abrir os olhos um carro vinha na minha direção e por um segundo eu pensei que aquilo tudo estava okay pra mim, mas alguém me puxou e eu cambaleei de volta pra calçada.
Ele ainda me segurava pelos ombros e seus lábios se movimentavam, mas eu não conseguia escutar o que ele dizia pela música alta. Demorei um certo tempo pra tirar o headphone.
"Você tá legal?" foi o que ele me perguntou. Os cabelos na altura do queixo, a barba por fazer, a camisa xadrez que ele usava com os coturnos nos pés, as luvas pra bike (aquelas que deixa os dedos de fora), o violão que ele carregava nas costas ou o cheiro de nicotina que praticamente me seduzia saindo pelas frestas dos seus lábios, tudo isso me hipnotizou por uma fração de segundos.
Eu queria responder que não estava, queria dizer que eu provavelmente havia fraturado alguma coisa ou pelo choque eu precisaria de terapia intensiva durante anos, só pra ele me levar até algum hospital e talvez pudéssemos fazer sexo selvagem sobre uma das macas. Mas ao invés disso, eu disse que estava, e ele foi embora.
Nunca me culpei por ser tão retardada até aquele dia. O que eu podia fazer? Eu era só uma garota estranha que quase morreu atropelada no meio da rua. Talvez se eu fosse mesmo atropelada talvez eu tivesse chamado mais atenção, ou talvez nem assim. O fato é que, depois disso, eu como a pessoa anormal que sou passei a stalkear o cara. Aquele dia eu tinha desviado o meu caminho, e passei a desviá-lo todos os dias só pra poder cruzar com ele e o seu violão. Dia desses eu segui ele por dois quarteirões, mas desisti na metade porque achei ele pudesse desconfiar de alguma coisa. 
Paixão é o caralho.